Antes das três da tarde da última segunda-feira, 13, o auditório do Sindicato dos Médicos do Estado de Sergipe (Sindimed) já estava lotado. Rapidamente, todos os assentos foram ocupados, e muitos permaneceram em pé, determinados a acompanhar um momento que, dali em diante, se tornaria referência na história recente das mobilizações sociais em Sergipe.
Às 16h, foi instituída oficialmente a Frente Ampla Contra Organizações Sociais em Sergipe, Em Defesa do Concurso Público, uma articulação coordenada pelo Sindimed e sustentada por uma rede ampla de entidades de classe, movimentos sociais, estudantis, além de parlamentares das esferas estadual e municipal.
O presidente do Sindimed, Dr. Helton Monteiro, abriu o evento mostrando a importância de quem conhece o tamanho do desafio que que a frente tem pela frente. No telão, o panfleto oficial da Frente surgia como um manifesto visual, condensando o alerta contra a terceirização da saúde, da educação e da assistência social.
Em seguida, Dr. Helton apresentou um vídeo produzido pela entidade médica que explicava de forma didática o que são as Organizações Sociais (OSs) e como, em todo o país, elas vêm deixando rastros, sendo investigadas pela polícia, pelo Ministério Público, por supostos envolvimentos em práticas de corrupção, desvios de recursos e precarização dos serviços públicos.
“Essas organizações, em todo o país, não deram certo. Só trouxeram prejuízos e, em muitos casos, indícios fortes de corrupção. A gente não pode deixar essas organizações se instalarem em Sergipe, algumas delas, inclusive, sendo investigadas pela Polícia Federal, alertou Dr. Helton.
E ele prosseguiu, sob aplausos. “Os sindicatos dos médicos, dos professores, da assistência social, os movimentos populares e parlamentares estão aqui para defender o serviço público. Não é possível que, em pleno século XXI, a gente volte aos tempos em que o ingresso no serviço público dependia de indicação política. Queremos servidores concursados, com estabilidade e compromisso com o povo”, conclamou.
Apoio incondicional
Aberto aos pronunciamentos, o evento revelou uma sintonia de propósitos contundentes. Cada fala era acolhida com aplausos, gestos de aprovação. Reinava no ambiente a sensação de reencontro, como se as forças populares voltassem a respirar juntas.
“A importância desse ato é aglutinar forças para enfrentar esse momento trágico”, resumiu Roseli Anacleto, representante do Sindicado dos Assistentes Sociais de Sergipe (Sindasse), numa fala breve, mas simbólica.
Obanshe Severo, presidente do Sindicato dos Profissionais do Ensino do Município de Aracaju (Sindipema), destacou a necessidade de união. “A gente tem que unificar todas as lutas em defesa dos serviços e dos servidores públicos. Esse é o caminho para resistir a todas essas tentativas de acabar com o serviço e com os servidores públicos”, colocou.
Na sequência, Daiana Alves, presidente do Sindicato dos Psicólogos e Psicólogas de Sergipe (Sinpsi/SE), enfatizou o impacto das OSs sobre a vida real das pessoas. “As organizações sociais precarizam não apenas os trabalhadores, mas também os serviços prestados à sociedade. É um processo que desumaniza e mercantiliza o que é de todos”, opinou.
Ronaldo de Lima, secretário-geral do Sindicato do Fisco do Estado de Sergipe (Sindifisco), reforçou o reconhecimento ao Sindimed. “Parabenizo o trabalho que foi iniciado pelo Sindimed e que hoje ganha o apoio de tantas entidades, movimentos e parlamentares. Esse é um movimento de consciência e resistência”, elogiou.
Parlamentares engajados
Entre os presentes, parlamentares de diferentes partidos, unidos pela defesa do serviço público, também discursaram.
O vereador por Aracaju, Iran Barbosa (Psol) foi enfático: “É muito importante estar aqui, participando do lançamento dessa Frente Ampla contra as Organizações Sociais, e, portanto, em defesa do serviço público, do concurso público e da qualidade da saúde, da educação e da assistência social. Contem com o meu mandato para seguir firme nessa luta”, observou.
O deputado estadual Georgeo Passos (Cidadania) declarou veemente oposição a quaisquer projetos de privatização, comprometendo-se a combatê-los tanto na esfera estadual quanto na municipal. “Na Assembleia Legislativa, votamos contra essas medidas do governador Fábio Mitidieri. Também deixei claro à prefeita Emília Corrêa que não sou a favor dessas organizações. Parabenizo todos os sindicatos pela união e pela força nessa luta”, sublinhou.
A deputada estadual Linda Brasil (Psol) reafirmou seu compromisso com o funcionalismo público. “Parabenizo todos os sindicatos aqui presentes, que estão nesse movimento tão importante para garantir que a saúde e os serviços públicos sejam geridos pelo governo, e não pela iniciativa privada”, declarou.
A vereadora Sônia Meire (Psol) mostrou-se preocupada e classificou o crescimento das OSs em Sergipe como “nefasto”. “Muitas dessas entidades contratadas estão sob suspeita de desvios de recursos, com endereços inexistentes e irregularidades em certidões. É inaceitável que o Estado e o Município contratem organizações sob suspeita”, frisou.
A rua: palco da democracia
Ao fim do evento, os líderes sindicais desenrolaram uma faixa imensa que dizia: “NÃO ÀS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS na saúde, educação e assistência! SIM AO CONCURSO PÚBLICO!”
O gesto foi o sinal para o segundo momento do ato.
Do auditório para as ruas, a multidão tomou a rua Celso Oliva, sede do Sindimed, em direção ao Calçadão da 13 de Julho, próximo à Praia Formosa. Panfletos eram distribuídos, faixas erguidas, e as palavras de ordem ecoavam entre os prédios da avenida Beira-Mar:
“Não à privatização! Concurso público é a solução!”
Motoristas buzinavam em apoio. Passageiros acenavam pelas janelas dos ônibus do transporte coletivo. Em uma esquina estratégica, diante da luz intermitente de um semáforo, os representantes sindicais voltavam a discursar, reafirmando seu compromisso com a defesa do Estado público e sua oposição à terceirização de direitos.
O presidente da CUT Sergipe, Roberto Silva, foi incisivo. “É um ato contra a privatização. O que o governo do Estado e a Prefeitura estão fazendo é entregar a gestão dos hospitais e postos de saúde a empresas investigadas pela polícia. Estamos aqui para denunciar e para que a população saiba o que está acontecendo”, asseverou.
O vereador por Aracaju, Camilo Daniel (PT), complementou. “Essa frente é uma trincheira contra as organizações sociais, uma frente pela valorização dos serviços públicos. O que o governador e a prefeita querem é privatizar. As raposas estão tomando conta do galinheiro, e é dever do povo defender o que é seu”, discursou, sob aplausos.
A vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica da Rede Oficial do Estado de Sergipe (Sintese), Leila Moraes, refletiu sobre o senso comum. “Muita gente acha que ‘organização’ é uma palavra boa, mas o que essas entidades representam é o desmonte do serviço público. Saúde, educação e assistência são o tripé da cidadania e estão sendo atacadas por uma lógica privatista que serve ao lucro, não ao povo”, refletiu.
Polyana Sarmento, representante do Sindicato dos Trabalhadores da Universidade Federal de Sergipe (Sintufs), foi taxativa. “A defesa do serviço público é a defesa da democracia. Nenhum país avança destruindo suas estruturas públicas”, afirmou.
Fábio Henrique, presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFS, levou a voz da juventude. “A universidade e os estudantes estão juntos nessa luta. OS é a maneira bonita de dizer: ‘privatizar’. O que está em jogo é o futuro das próximas gerações e o direito de sonhar com um país justo”, alertou.
Igor Machado, do Sindicado dos Assistentes Sociais de Sergipe (Sindasse), resumiu com firmeza. “Não há serviço público de qualidade sem servidor público concursado. O que as OSs querem é desmontar o Estado e vender o que é nosso”, destacou.
Compromisso renovado
O sol se despedia no horizonte oeste quando o ato chegou ao fim. Entre os organizadores da Frente, um sentimento coletivo de que algo havia sido semeado.
E antes de dispersarem, os organizadores anunciaram o próximo passo: no dia 20 de outubro, às 9h, haverá uma plenária na sede da CUT, com três pontos de pauta: avaliação do lançamento da Frente; encaminhamentos de ação; e o que ocorrer.
O público vibrou uma última vez, em coro:
“Não à terceirização, concurso público é a solução!”, terminando assim o ato que entrou para a história como o nascimento da Frente Ampla Contra Organizações Sociais em Sergipe, uma frente de resistência e compromisso com o que é público.
Participação
Participaram da mobilização: Sindimed, CUT, FMB, Sintese, Sindasse, Sinpsi-SE, Sindipema, Sacema, Sintama, Sinodonto, Sintasa, Sindnutrise, Sintrafa, Sindifisco, Sintufs, Sints/SE, Sindifarma, Conam, Fecs, Aprovados Concurso SES-2025, MNDH, DCE/UFS, Camed, Adufs, Mandata Sônia Meire, Mandata Linda Brasil, Mandato Vereador Iran Barbosa, Mandato Vereador Camilo Daniel, Mandato Deputado Georgeo Passos, Cress, Afronte.
Por Joângelo Custódio, assessoria de comunicação Sindimed.
Fotos: Thay Rocha/Ascom/Sônia Meire