Uma convergência histórica de forças sindicais, parlamentares e representantes classistas tomou conta do auditório do Sindicato dos Médicos do Estado de Sergipe (Sindimed) na manhã desta terça-feira (7). O que se configurou como uma reunião ampliada contra as privatizações e terceirizações do SUS, transformou-se em um poderoso ato de resistência política e solidariedade, catalisado por uma sórdida campanha de difamação contra o presidente da entidade sindical, Dr. Helton Monteiro. O ambiente, carregado de emoção e determinação, selou um pacto em defesa da saúde pública e da honra daqueles que a defendem.
O gatilho imediato para a mobilização maciça foram as fake news veiculadas na última sexta-feira (3) por veículos de comunicação, que acusaram Dr. Helton de ser um "grande empresário". A investida, amplamente caracterizada como "vis” e "covardes", foi interpretada como uma retaliação direta ao seu trabalho de investigação e denúncia do modelo de terceirização via Organizações Sociais (OS) na saúde sergipana.
Ao abrir o encontro, Dr. Helton Monteiro, visivelmente emocionado, mas com voz firme, não poupou palavras para descrever o impacto dos ataques.
"Fui vítima de ataques vis e covardes. Atingiram minha honra, minha família, minha classe", declarou, recebendo uma prolongada salva de palmas da plateia. "Investigaram a minha vida para afirmar, de maneira torpe e canhestra, que eu seria um grande empresário, o que é uma mentira deslavada. É uma tentativa clara de deslegitimar a nossa luta contra as terceirizações da saúde”, destacou.
Durante a reunião, Dr. Helton antecipou parte de um amplo levantamento que será divulgado publicamente nas próximas semanas, trazendo à tona fatos concretos que transformam as preocupações com a terceirização da saúde em alertas fundamentados para toda a sociedade.
Apoio incondicional
A sucessão de pronunciamentos em defesa do Dr. Helton evidenciou uma união sólida entre as entidades e a indignação com as ofensas dirigidas ao presidente do Sindimed.
Roberto Silva, presidente da CUT Sergipe, solidarizou-se com o Sindimed e definiu o cerne da luta. "Estou aqui prestando solidariedade ao companheiro Helton pelo trabalho que vem fazendo de investigação e defesa da saúde pública, denunciando essa situação das OS's, que é um projeto brutal de privatização e entrega do serviço público à iniciativa privada".
A política partidária se fez presente. O Vereador Elber Batalha foi direto: "Quero dizer que Dr. Helton e todo o Sindimed têm a nossa solidariedade. Quem denuncia irregularidades com dinheiro público merece nosso apoio, nossa atenção, e não ataques e represálias".
A vereadora Sônia Meire foi além das palavras e anunciou uma ação concreta. "Vamos fazer, na Câmara de Aracaju, uma Moção de Apoio ao camarada Helton e ao Sindimed. A nossa luta vai continuar firme pela garantia dos direitos da saúde pública". Ela vinculou a perseguição ao sindicalista ao seu trabalho de investigação. "Os atentados que têm sido cometidos contra a figura do presidente Helton são por conta do trabalho sério de denúncia contra essas OSs que têm tomado conta do serviço público". E alertou: "Temos um processo muito grave de terceirizações em todas as áreas. Quando avançam as terceirizações, há uma perda na universalização do acesso aos direitos, principalmente à saúde".
O vereador Iran Barbosa defendeu a ampliação da luta. "É importantíssimo que nós estejamos unidos não apenas os sindicatos na área da saúde, mas todas as entidades que têm compromisso com a saúde. Precisamos fazer um fórum aqui em nosso estado, em defesa da saúde e contra qualquer iniciativa que vise mercantilizar o atendimento ao nosso povo".
Dr. Jilvan Pinto, presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM), trouxe o apoio formal da classe médica, classificando os ataques como "um absurdo, em relação ao desempenho que ele tem feito em defesa do trabalhador da área da saúde".
O ex-presidente do Sindimed, Dr. José Menezes, contextualizou a luta no cenário nacional. "A categoria médica está sofrendo em todo o Brasil essa questão da terceirização. Tudo isso é consequência da reforma trabalhista. O nosso atual presidente foi agredido, mas aquilo que nos atinge, nos agride e nos fortalece. Nós esperamos que tenhamos concurso público, porque os governantes, estaduais e municipais, vão levar a extinguir a categoria de servidor público", analisou o decano.
Já o superintendente regional do Trabalho em Sergipe, Cláudio Caducha, colocou o órgão à disposição das entidades sindicais “para receber reivindicações e denúncias, de modo que o Ministério do Trabalho possa agir no combate à precarização dos serviços públicos”.
A professora Ana Lúcia, ex-deputada estadual, reconheceu a postura do sindicato. “O caminho do Sindimed está correto. Precisamos defender o maior sistema público de saúde do mundo, que é o SUS. O sindicato tem cumprido um papel essencial ao denunciar o processo de mercantilização desse serviço”, afirmou.
Sindicatos de bases em uníssono
As bases dos movimentos sindicais também se fizeram presentes. Gilvânia Marques, presidente do Sindicato dos Técnicos e Auxiliares de Enfermagem de Aracaju (Sintama), expressou o sentimento de muitos. "É com muita tristeza que a gente recebe esses ataques contra Dr. Helton, um homem honrado que vem combatendo essas OSs".
Outras lideranças também reforçaram o compromisso com a defesa da saúde pública e com a integridade do movimento sindical. O presidente do Sindicato dos Agentes de Saúde e Endemias do Município de Aracaju (Sacema), Carlos Augusto, classificou o encontro como “um ato importante em defesa das organizações sindicais, contra as privatizações e em apoio ao presidente do Sindimed, Dr. Helton Monteiro, que está sofrendo diversas agressões”.
A presidente do Sindicato dos Cirurgiões Dentistas de Sergipe (Sinodonto), Lisândra Lima, fez questão de ressaltar a solidariedade da categoria. “Vim prestar minha solidariedade. O Sinodonto está lado a lado com o Sindimed. Somos contra as privatizações, contra a terceirização e a favor do concurso público”, afirmou.
Já o representante do Sindicato dos Técnicos e Auxiliares de Enfermagem do Município de Aracaju (Sintama), Atamário Cordeiro, destacou que o debate sobre as organizações sociais deixou evidente “a necessidade de se combater esse modelo de gestão que ameaça o caráter público da saúde”.
Deliberação
Ao final do encontro, que se estendeu por horas, Dr. Helton Monteiro agradeceu a solidariedade "de inúmeros sindicatos, o CRM, todos defendendo a autonomia sindical e dando força ao Sindicato dos Médicos na luta contra as privatizações".
E então, veio a deliberação prática, o legado concreto daquele ato histórico: a criação de uma Frente Ampliada em Defesa da Saúde Pública, Contra as Terceirizações e Pelo Concurso Público. A Frente, que congregará sindicatos, parlamentares e a sociedade civil, marcará seu início de trabalhos já na próxima segunda-feira (13), a partir das 15h, em local a ser definido.
O encontro, que contou com a presença do vice-presidente Dr. Argemiro Macedo e de toda a diretoria do Sindimed, representou muito mais que uma reunião, foi o marco zero de uma resistência reorganizada. A campanha de difamação, longe de fragilizar o movimento, solidificou uma aliança política inédita, convertendo ataques pessoais em combustível para a luta coletiva.
Assim nascia a Frente Ampliada, não mais como um fórum de debates, mas como trincheira unificada em defesa do SUS e contra a precarização da saúde pública.
Por Joângelo Custódio, assessoria de comunicação do Sindimed
