Notícias 01/05/2025

1º de Maio: o grito sufocado de quem cuida


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Neste 1º de Maio, Dia do Trabalhador, o Sindicato dos Médicos do Estado de Sergipe (Sindimed) ergue sua voz não apenas em celebração, mas em denúncia. Sim, denúncia. Porque neste país que insiste em se pintar de modernidade, pulsa nas entranhas do serviço público um sistema arcaico e cruel, onde os médicos, esses que curam, seguem adoecendo de indignação.

Em pleno século XXI, é preciso gritar o óbvio: médicas estão sendo privadas de um direito elementar — a licença-maternidade. Médicos que ousam denunciar condições desumanas de trabalho são sumariamente demitidos. Profissionais que não têm férias, tampouco 13º salário, como se fossem peças descartáveis numa engrenagem de exploração institucionalizada. Eis o retrato de um Brasil que ainda se arrasta sob os escombros do neo-coronelismo e do neo-clientelismo, sistemas coloniais em sua essência.

Neste cenário, o Sindimed denuncia a nefasta influência das chamadas Organizações Sociais (OSs), que, sob o manto da eficiência, prestam-se muitas vezes a desvirtuar a missão pública da saúde, transformando direitos em favores, estabilidade em silêncio, vocação em cansaço. É urgente que se promovam concursos públicos, que garantam aos médicos a dignidade da estabilidade, a possibilidade de servir à população com independência, ética e segurança jurídica.

Trabalhar na saúde pública, hoje, é muitas vezes caminhar em terreno minado. Não bastasse o subfinanciamento crônico do Sistema Único de Saúde, há o desrespeito ao profissional que está na ponta, aquele que encara o sofrimento alheio de olhos nus, que ampara vidas nos corredores lotados, que sustenta com suas próprias forças um sistema que parece feito para ruir. Esse médico é um trabalhador. E precisa, como qualquer outro, ter seus direitos preservados.

É por isso que o Sindimed criou o Outubro Branco, campanha que vai além da simbologia: é uma convocação à consciência coletiva, à valorização da medicina pública e de seus profissionais, ao reconhecimento de que não se constrói uma saúde digna sem dignidade para quem a executa. Médico não é super-herói — é humano. E humanos precisam de descanso, proteção, respaldo e respeito.

As autoridades que desdenham as fiscalizações do Sindimed, ou mesmo do Conselho Regional de Medicina (CRM), prestam um desserviço à sociedade. Quando fecham os olhos para os relatórios técnicos, para os alertas sobre a precarização, estão legitimando o caos, autorizando o abandono. Estão, em última instância, ignorando a dor de quem precisa de atendimento e de quem, todos os dias, se dispõe a cuidar, mesmo sem as mínimas condições para fazê-lo.

O médico é, sim, um trabalhador. O jaleco não o desobriga de ser cidadão. E neste Dia do Trabalhador, o Sindimed se soma às vozes que clamam por justiça, dignidade e respeito. A saúde pública só será realmente pública quando deixar de ser um campo de improvisos e passar a ser prioridade de Estado. Enquanto isso não acontecer, seguiremos lutando — com a cabeça erguida, com a caneta na mão e com o bisturi da verdade em riste.

Sindicato dos Médicos do Estado de Sergipe