Em mais uma ação conjunta marcada por rigor técnico e compromisso com a valorização do trabalho médico e o bem-estar da população sergipana, o Sindicato dos Médicos do Estado de Sergipe (Sindimed) e o Conselho Regional de Medicina de Sergipe (CRM-SE) realizaram, na tarde desta sexta-feira, 4 de abril, uma fiscalização no Hospital e Maternidade Regional José Franco Sobrinho, localizado no município de Nossa Senhora do Socorro, região metropolitana de Aracaju.
A visita teve como objetivo apurar a real situação da unidade hospitalar, tanto em relação às condições de trabalho oferecidas aos profissionais médicos, quanto à estrutura do hospital diante da crescente demanda de pacientes.
O que se constatou, porém, foi um cenário alarmante: escalas médicas deficitárias, sobrecarga de trabalho, precariedade na contratação de médicos e pacientes aguardando dias por transferência. Uma radiografia da crise silenciosa que compromete a dignidade do cuidado à saúde em Sergipe.
“Aqui observamos escala médica deficitária e, por isso, os transtornos para a população, que aguarda muito mais tempo para ser atendida. Isso ocorre, por exemplo, na obstetrícia, onde a escassez de plantonistas muitas vezes obriga a transferência de parturientes para outras unidades”, relatou o vice-presidente do Sindimed, Dr. Argemiro Macedo, ao final da inspeção.
Segundo ele, um dos fatores que agravam a situação é a fragilidade nos vínculos empregatícios dos profissionais que atuam no hospital. “O Estado de Sergipe insiste no modelo de ‘pejotização’. Quando muito, recorre ao credenciamento, que, por sua vez, está com a lista desatualizada. Com isso, acabam convocando colegas que já não estão mais disponíveis para trabalhar. Isso é gravíssimo”, criticou.
Dr. Argemiro destacou ainda a importância estratégica do Hospital José Franco, que hoje recebe pacientes não apenas de Nossa Senhora do Socorro, mas também de municípios circunvizinhos.
“A demanda aqui cresceu exponencialmente. Saltamos de três mil atendimentos mensais para cerca de dez ou até doze mil. Isso exige um olhar mais responsável e urgente da Secretaria de Estado da Saúde. Não é aceitável que uma unidade com essa relevância opere com médicos precarizados, sem estrutura adequada. Esperamos que o concurso público anunciado mude essa realidade, mas é necessária uma ação imediata do governo para reverter o atual modelo de precarização”, contestou.
Colapso
A crítica é reforçada pelo presidente do CRM-SE, Dr. Jilvan Pinto Monteiro, que também participou da fiscalização. Ele descreveu um panorama que beira o colapso: “Constatamos que, na urgência, há apenas dois médicos na clínica médica, quando seriam quatro o ideal. Isso gera uma sobrecarga de trabalho absurda para os colegas, colocando em risco não apenas os profissionais, mas também os pacientes que procuram atendimento”, reforçou.
Dr. Jilvan foi além: “Na Área Vermelha, destinada à estabilização, encontramos pacientes há quatro dias esperando transferência. Na Área Amarela, o tempo de espera sobe para cinco dias. E temos ainda pacientes internados na emergência que aguardam, em média, quatro dias por uma vaga hospitalar. É um sistema que falha em sua essência”, denunciou.
O presidente do CRM-SE sintetizou a gravidade da situação: “O que observamos aqui é o alto risco que corre o médico que tenta atender diante da falta de condições mínimas de trabalho, e o paciente, que é penalizado por um modelo que já se mostrou ineficaz. A sociedade está sendo punida”, relatou, expondo preocupação.
A inspeção foi acompanhada pelo diretor técnico da unidade, Dr. Marco Antônio Caldas Cardoso Filho, que esteve presente durante toda a visita, contribuindo com informações sobre o funcionamento do hospital e esclarecendo pontos levantados pelas entidades médicas.
A comitiva de fiscalização também contou com a participação da Dra. Andrea Diniz, primeira secretária do CRM-SE, e do coordenador de fiscalização do conselho, Alexandre Pereira.
Porta aberta
A unidade hospitalar, sob gestão da Secretaria de Estado da Saúde, é classificada como "porta aberta" para atendimentos de urgência, emergência e obstetrícia, funcionando como referência para diversos municípios da Grande Aracaju e do interior do estado. Entretanto, a estrutura da instituição não acompanha a complexidade e o volume de casos que recebe diariamente.
Parceria
A parceria entre o Sindimed e o CRM tem se consolidado como um instrumento técnico e político de enfrentamento às más gestões que sacrificam médicos e pacientes em nome de modelos administrativos fragilizados e economicistas.
As entidades cobram, agora, um posicionamento claro da Secretaria de Estado da Saúde diante das irregularidades flagradas.
Por Joângelo Custódio, Assessoria de Comunicação Sindimed.