O podcast "A Voz do Médico", promovido pelo Sindicato dos Médicos do Estado de Sergipe (Sindimed), trouxe uma discussão essencial sobre o uso da medicina canabinoide para tratamento de epilepsia e Transtorno do Espectro Autismo. Participaram do programa os especialistas Dr. Sérgio Luiz de Oliveira Santos e Dr. Tiago Paiva, com a presença das diretoras do Sindimed, Dra. Gilmara Carvalho e Dra. Fernanda Teixeira.
Sergipe se destacou como pioneiro ao implementar uma legislação abrangente sobre o uso de cannabis medicinal. Embora não tenha sido o primeiro estado a adotar a lei, foi o primeiro a criar um protocolo completo, incluindo capacitação de profissionais e apoio a associações de pacientes.
"Sergipe não era o primeiro do país com relação à lei, mas foi o primeiro a ter uma lei bastante completa, não apenas com estabelecimento de protocolos e fornecimento, mas com capacitação de profissionais, fomento à pesquisa, de poder ajudar associações de pacientes de cannabis. Ainda tem muito a se fazer dentro dessa lei. E o primeiro passo foi a construção de uma política pública de fornecimento de produtos derivados de cannabis para algumas doenças", afirmou Sérgio.
O primeiro protocolo adotado foi voltado para a epilepsia, especialmente a refratária. "Estudos científicos mostram um nível de evidência A para o uso de cannabis na epilepsia", completou o especialista.
Dr. Tiago Paiva, neurocirurgião infantil, destacou a importância do trabalho em equipe para o sucesso dos estudos. "Tivemos carta branca para trazer as melhores práticas. Para a formação de um grupo de trabalho, uma das premissas era que o núcleo médico e científico tivesse carta branca, e isso foi determinante. As populações que precisam de cannabis medicinal são inúmeras, e ter tido carta branca para trazer o que tem de melhor foi decisivo para que as coisas andassem em Sergipe".
Com o sucesso do primeiro protocolo, Sergipe implementou recentemente o segundo, voltado para o Transtorno do Espectro Autismo. Este protocolo é especialmente relevante devido à alta prevalência do autismo em comparação com a epilepsia.
“O segundo protocolo de autismo é um grande passo, porque quando falamos em epilepsia, falamos de 26 casos em 100 mil, com relação ao autismo, falamos de 29 em 100. Existe uma relação entre epilepsia e pré-natal, epilepsia e condição de parto, DST, socioeconômica, mas o autismo não escolhe”, contextualizou Paiva.
Desafios e expectativas
O tratamento do autismo com cannabis não busca curar a condição, mas melhorar a qualidade de vida dos pacientes, especialmente os que apresentam agressividade severa. "O uso de cannabidiol auxilia na adesão a tratamentos multidisciplinares, especialmente em casos onde medidas não farmacológicas não são eficazes", ponderou Sérgio.
Dr. Paiva reforçou que o tratamento de autismo é multidisciplinar, envolvendo apoio social e familiar, e que o canabidiol é um complemento para casos de agressividade extrema.
“O autismo não melhora com canabidiol, o que melhora o autismo são as terapias estruturadas, apoio social, rede de apoio familiar, uso de toda estrutura terapêutica. O canabidiol ajuda crianças e jovens com extrema agressividade a terem qualidade de vida”, concluiu Paiva.
Acesso e inclusão
Os protocolos exigem encaminhamento de especialistas, e os pacientes são acolhidos pelo Núcleo de Acolhimento de Terapias Especializadas (Nate), que funciona no Hospital de Urgência de Sergipe (Huse) e tem 50 pacientes cadastrados e em tratamento. O processo de inclusão no protocolo é rigoroso, garantindo que o tratamento seja aplicado de maneira adequada.
Para mais detalhes sobre o segundo protocolo de tratamento, acesse o canal do podcast A Voz do Médico no YouTube.