Podcast A Voz do Médico: Dr. Sérgio Oliveira fala dos avanços da Cannabis medicinal

Data de publicação: 09/05/2024

A discussão em torno do uso medicinal da Cannabis ganha cada vez mais destaque. Para falar sobre o assunto, Dr. Sérgio Luiz de Oliveira Santos, alergologista e especialista em medicina canabinoide, participou do podcast "A Voz do Médico", do Sindicato dos Médicos do Estado de Sergipe (Sindimed). Na ocasião, ele atualizou informações relevantes sobre pesquisa e a inclusão do medicamento no Sistema Único de Saúde (SUS).

Na entrevista, conduzida por Dr. Helton Monteiro e Dr. Argemiro Macedo, presidente e vice, respectivamente, do Sindimed, Dr. Sérgio contextualizou o uso milenar da cannabis na história da humanidade, ressaltando sua presença ao longo de mais de 3 mil anos como recurso terapêutico. “Encontramos citações, na Bíblia, de uma planta que seria a Cannabis, chamada, à época, de ‘Cana Aromática’, usada principalmente como chá para tratar dores, até asma”, contou.

Nova fronteira

Dr. Sérgio, que também é integrante do grupo de trabalho para formatação de políticas públicas de saúde de canabis medicinal no Estado,  lembrou que, no século passado, a política de combate às drogas relegou a Cannabis ao status de substância proscrita, apesar dos registros de seu uso medicinal em épocas anteriores. Contudo, ele não tem dúvidas que o estudo recente representa uma nova fronteira para a medicina.

“Ainda é uma droga proibida, mas eu não tenho dúvidas que é a nova fronteira da medicina. Temos aplicações com enormes evidências científicas e podemos ter novas indicações ao longo do tempo, porque não estamos falando de uma medicação só, mas de várias medicações que são derivadas da planta”, defende.

O médico abordou os avanços científicos na compreensão das propriedades terapêuticas da Cannabis, especialmente a partir da identificação de moléculas como o canabidiol (CBD) e o delta-9-tetra-hidrocanabinol (THC).

Ele ainda externou as dificuldades de estudar uma planta considerada ilícita e destacou o papel pioneiro de países como Israel nessa pesquisa.

“Nos anos 60 começaram a investigar essa substância. Foi o pontapé inicial para começar a estudar a Cannabis para fins medicinal, chamada de medicina canabinoide. O país que se destaca bastante no estudo é Israel, que realmente conheceu, nos anos 60, a estrutura das moléculas da Cannabis, enquanto o Brasil fala disso há pouco mais de 10 anos. O Brasil, embora ainda em desenvolvimento nessa área, já apresenta avanços significativos, como a produção nacional de óleo de cannabis por meio de associações”, relata.

Doenças

Dr. Sérgio comentou sobre as principais aplicações terapêuticas da Cannabis, com ênfase em doenças neurológicas, epilepsia, comportamento agressivo em pessoas com autismo, ansiedade, dores crônicas, doença de Parkinson e fibromialgia.

“As pesquisas mais avançadas foram para doenças como epilepsia, com forte evidência nas recomendações e uso. Com o passar do tempo, a Cannabis começou a ser utilizada em outras doenças, principalmente aquelas que afetam o sistema nervoso, como doenças neurológicas. O efeito anti-inflamatório da Cannabis também é promissor para doenças inflamatórias intestinais, dentre outras”, explica Sérgio, reforçando que existem protocolos de acesso aos produtos derivados da Cannabis, tanto por meio de farmácias quanto de importadoras autorizadas.

Cannabis no SUS

O especialista destacou o pioneirismo de Sergipe na legislação sobre essa substância medicinal, citando a Lei Estadual nº 9.178, que institui a Política Estadual de Cannabis, a qual visa garantir o acesso de pacientes ao medicamento, além de incentivar a pesquisa e a capacitação de profissionais.

De acordo com Dr. Sérgio, o SUS em Sergipe já oferece canabidiol para pacientes com epilepsia, muito em virtude do primeiro Protocolo de Acesso aos Produtos Derivados de Cannabis desenvolvido pela Secretaria de Estado da Saúde (SES).

“Com essa Lei, tende a romper divisas, fronteiras, inclusive reduzir o preço do produto medicinal, porque vai estimular a produção no Brasil sem precisar importar de outros países. A regulamentação da Anvisa tem contribuído bastante para ampliar o acesso ao tratamento”, frisou.

Atualmente, revela o médico, está em processo de aprovação um segundo Protocolo para o tratamento do comportamento agressivo no Transtorno do Espectro Autista, inclusive com abertura de Consulta Pública, a qual está disponível até 9 de maio, no site da SES.

“Foi lançada uma consulta pública em 9 de abril e no dia 9 de maio ela será encerrada. Existe um protocolo no site da SES, inclusive com relatório técnico tanto para médico quanto para a sociedade. Pedimos que as pessoas entrem no site e contribuam, deem sugestões para que a gente possa finalizar esse protocolo em meados de junho, visando permitir que pessoas com autismo também peguem o medicamento gratuitamente pelo SUS. A participação da população é fundamental para aprimorar o protocolo e garantir o melhor atendimento aos pacientes”, incentiva.

Capacitação

Ao transcorrer da entrevista, Dr. Sérgio enfatizou a importância da capacitação dos médicos para a prescrição da Cannabis medicinal e lamentou a falta de abordagem sobre o tema nas faculdades de medicina.

“A própria Lei local prevê não só o fornecimento de medicação, mas fomentação de pesquisa, capacitação de profissionais. Não vemos matéria sobre medicina canabinoide nas faculdades. Se não há, o médico vai sair da faculdade sem conhecer. Só 2% dos médicos do país são capacitados a prescrever cannabis, e isso é muito pouco. Já temos uma conversa avançada com a Universidade Federal de Sergipe para levar novas pesquisas locais a partir dos pacientes atendidos aqui”, revelou.

Dr. Helton Monteiro, reconhecendo a necessidade de capacitação dos médicos, colocou o auditório do Sindimed à disposição para cursos e workshops sobre medicina canabinoide. Essa iniciativa, para o presidente, “demonstra o compromisso da entidade em promover a atualização profissional e garantir um atendimento de qualidade aos pacientes”.

Entrevista completa em nosso canal no YouTube.