Preconceito ainda é obstáculo para exames que podem evitar câncer colorretal

Data de publicação: 16/03/2023

Não deveria, mas o preconceito ainda é um dos fatores que influenciam as pessoas a não se submeterem a determinados tipos de exames clínicos, a exemplo da videocolonoscopia, para detecção de câncer colorretal (intestino e reto), em razão de o exame ser considerado invasivo – um tabu que já atrapalhou também os diagnósticos de doenças na próstata.

Na maioria das vezes, em virtude desse tolo preconceito, o paciente acaba, equivocadamente, desistindo do exame, mesmo diante das orientações de um profissional médico, neste caso, um proctologista ou um gastroenterologista.

Com o objetivo de ajudar a desmistificar esse preconceito, o Sindicato dos Médicos do Estado de Sergipe (Sindimed-SE), somando-se à campanha “Março Azul”, que visa ar a população sobre a conscientização da prevenção e combate ao câncer colorretal, conversou com o médico proctologista Hernan Augusto Centurion Sobral.

De forma didática, o especialista lembra que o câncer colorretal é o segundo que mais mata homens e mulheres no planeta, conforme dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).

O tumor, diz ele, ocorre no intestino grosso do paciente, mais especificamente em duas partes que se chamam cólon e reto. Esse tumor costuma surgir no organismo humano a partir de pólipos.

No Brasil, a estimativa do Instituto Nacional do Câncer, para este ano, é de 45.630 mil novos casos da doença no triênio de 2023 a 2025, com risco estimado de 21,10 casos por 100 mil habitantes. Desses, 420 devem ser diagnosticados em Sergipe.

“O câncer colorretal é todo o tumor maligno que acomete o intestino grosso e o reto. Ele também é chamado de câncer do intestino, mas a gente sabe que o intestino também contempla o reto. Ele é o segundo que mais mata no Brasil, só perde para o câncer de mama, nas mulheres, e para o câncer de próstata, nos homens. Ou seja, ele é o terceiro na totalidade que mais mata”, a o especialista.

PREVENÇÃO

De acordo com o médico, este tipo de doença acomete igualmente homens e mulheres, sem predileção por gênero, sobretudo pacientes a partir de 45 anos. “Essa é a idade na qual se inicia processo de prevenção. Não é uma doença de jovem, é uma doença de adulto e idoso”.

Na avaliação do especialista, a prevenção pode acontecer de duas formas: a primeira, por meio do exame denominado videocolonoscopia, capaz de investigar o intestino grosso por meio de um aparelho que é introduzido por via retal, estando acoplado a uma câmera que permite diagnóstico preciso e detalhado de eventuais alterações ou lesões do intestino.

Na realização deste exame se faz necessária a presença do médico executante, um anestesista (responsável por um exame seguro e indolor). Durante o procedimento, existe a possibilidade de realização de biópsias ou retiradas polipectomias, que muitas vezes antecedem quadros de câncer. Ao retirá-los, ainda durante o exame, se evita que eles evoluam para um quadro maligno.

“A videocolonoscopia é o exame que chamamos de ‘padrão ouro’, considerado o melhor para detectar as lesões pré-malignas que antecedem a formação do câncer ou do câncer em estágio inicial. As pessoas, nesta idade (45), independentemente se estão sentindo alguma coisa ou não, devem fazer esse procedimento”, orienta.

Contudo, complementa o proctologista, se o paciente tiver histórico de pessoas com câncer de intestino na família, um parente de primeiro ou de segundo grau, a recomendação é que inicie a prevenção aos 40 anos.

A segunda etapa de prevenção também é considerada essencial pelo especialista: mudanças de hábitos.

“Existe a prevenção baseada na nossa mudança de hábitos, não só dos alimentares, como também dos hábitos de vida no modo geral. É sabido, também, que existem maneiras de prevenir a doença por meio de alimentação saudável e rica em fibras, pobre em gordura de origem animal, pobre em alimentos industrializados, embutidos, multiprocessados como salsicha, linguiça e presunto. Tem que ter bastante cuidado. Evitar bebida alcoólica e cigarro. A prática de atividade física é muito importante, sobretudo, na redução da obesidade, que está vinculada a uma maior propensão de desenvolvimento de câncer de intestino. Então, se você faz atividade e come de maneira saudável, você vai evitar a obesidade e diminuir a possibilidade de câncer. Fazer exame e adotar mudanças de hábitos são as principais formas de prevenir a doença”, enfatiza.

SINTOMAS

Sangramento, alteração no funcionamento do intestino e dor abdominal podem ser sintomas, no entanto, muitas vezes o câncer se desenvolve de forma silenciosa, tornando-o uma ameaça ainda mais perigosa.

“Independentemente da idade, na vivência de sinais e sintomas de a, como sangramento, perda de peso inexplicável, alteração do ritmo intestinal, massa abdominal palpável como um caroço na barriga, esses são os sinais e sintomas de a que, independentemente de idade ou histórico familiar, já são motivos de procurar um especialista, quer um proctologista ou gastroenterologista, que seriam mais ou menos as especialidades que tomariam conta dessa parte do câncer de colorretal”, afirma dr. Hernan.

TRATAMENTO

Segundo o dr. Hernan, o tratamento e as chances de cura dependem do estágio da doença. A cirurgia é o principal caminho para que o tumor seja retirado, mas também há possibilidade de serem realizadas quimioterapia, imunoterapia e radioterapia.

“Nas lesões precoces, ou seja, no início do diagnóstico, o paciente pode fazer o tratamento durante o exame de videocolonoscopia, onde as lesões são retiradas. Quando as lesões estão num estágio mais avançado, ou seja, mais profundas, requer um tratamento cirúrgico e de forma multidisciplinar, com cirurgia, quimioterapia, imunoterapia, radioterapia, mas depende de cada caso individualmente. Então, são estes estágios: tratamento durante a colonoscopia, denominada terapia endoscópica; nas lesões maiores, tratamentos cirúrgicos; e nas lesões avançadas, combinações de cirurgia, quimioterapia, imunoterapia e radioterapia, a depender de cada caso individualizado”, esclarece.

Dr. Hernan faz questão de ressaltar que o preconceitos com relação ao exame e até ao próprio câncer precisam ser combatidos.   

“É bom deixar claro que é um exame fácil de ser executado, feito sob anestesia, não dói e que as pessoas precisam tirar todo e qualquer preconceito da realização do exame, porque é muito melhor e salutar descobrir a doença antes mesmo dela aparecer. O importante dessa campanha é dizer que o câncer existe, é muito prevalente e que esse tabu precisa ser colocado de lado. O exame não tem dor e não vai trazer qualquer tipo de constrangimento”, conclui.