Janeiro Branco: psiquiatra chama atenção para cuidados com a saúde mental

Data de publicação: 18/01/2023

A cada Ano Novo é comum que as pessoas comecem a planejar, num papel em branco, suas próximas resoluções, objetivos e sonhos a serem realizados no ano que se descortina.

Para alguns, esse planejamento torna-se prazeroso, mas, para outros, lembranças nem tão agradáveis do passado e visão pessimista do futuro podem gerar ansiedade e depressão.

Esse é um dos questionamentos feitos pela campanha do movimento social “Janeiro Branco” 2023, com o tema “A vida pede equilíbrio”.

Ciente do seu papel social e com o objetivo de chamar a atenção das pessoas, instituições e autoridades para as necessidades relacionadas à saúde mental e para o respeito à condição psicológica de cada um, o Sindicato dos Médicos do Estado de Sergipe (Sindimed-SE) conversou com o presidente da Associação Sergipana de Psiquiatria e diretor técnico da Clínica Reintegrar, dr. Antonio Juviniano Santana de Aragão, o qual considera que esse esclarecimento ajuda a todos para um problema difícil de se conversar.

“O Janeiro Branco é uma campanha que iniciou em 2014 e foi abraçada de forma intensa por várias instituições públicas e particulares, como escolas, universidades, conselhos e de medicina, psicologia e outras profissões, além de sindicatos e a imprensa. Toda a sociedade abraçou esta campanha que é uma forma de valorizar a saúde mental. Traz a forma de as pessoas pensarem a importância do cuidado da saúde mental. A gente fala muito em atividade física na busca ao cuidado do corpo, mas a importância de cuidar da nossa mente, da nossa saúde mental, de repensar relacionamentos, trabalho, alimentação, a vida de uma forma geral, é muito importante também”, relata o psiquiatra.

Dr. Antonio afirma que o lema da campanha deste ano, “A vida pede equilíbrio”, convida a refletir sobre a necessidade e a importância do equilíbrio em nossas vidas, das pessoas terem estabilização nos relacionamentos, na vida social e profissional, na alimentação, na saúde por completo, sem esquecer da prática da religiosidade.

“A psiquiatria atua quando existe um sofrimento mental que interfere na vida da pessoa, como um transtorno de ansiedade generalizada, quadro de depressão, risco de suicídio, transtorno bipolar, uso de substâncias, entre outros. É importante enfatizar que é um acompanhamento multiprofissional, com o apoio de psicólogo ou psicanalista, educador físico, nutricionista, etc. Quando a gente fala em saúde mental, temos de falar de forma ampla, não é só o medicamento. Temos que pensar em orientações para o cuidado da saúde, dar dicas sobre isso, realizar exames laboratoriais, sempre em trabalho conjunto”, explica.

SINTOMAS

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicados em 2022, quase 1 bilhão de pessoas vivem com algum tipo de transtorno mental atualmente, situação agravada pela pandemia de covid-19 e por antigos tabus, preconceitos e desconhecimento a respeito dos múltiplos universos da saúde mental.

E os sintomas de transtorno mental são diversos, sendo os mais frequentes no Brasil os depressivos e os ansiosos.

“Pode ser a insônia, pode ser o humor deprimido, a falta de prazer. Às vezes, a pessoa passa a ter um uso muito intenso da internet, algo como dependência tecnológica. Às vezes, a pessoa faz um uso de substâncias, como o álcool, de forma mais intensa, uso de outras drogas, como maconha, cocaína, cigarro, então, acaba tendo diversos sintomas. Quando a gente fala em saúde mental, temos que ver esses sintomas, preencher critérios e pensar qual será o tratamento”, a o psiquiatra.

O Dr. Antonio lembra que um diagnóstico possui diferentes sintomas e que, por exemplo, existem vários quadros de depressão. “Uma pessoa com depressão, possui sintomas diferentes de outra pessoa com o mesmo diagnóstico. Por isso, o tratamento é individualizado, com um ou mais medicamentos, um tipo de terapia, etc”, revela.

 AJUDA

O especialista faz um a: se a pessoa identificar que está sofrendo por algum motivo e que isso está interferindo no seu dia a dia, procure ajuda imediata.

“Quando suspeitar ou perceber que tem um sintoma, que está sofrendo, imediatamente procure ajuda, seja com médico psiquiatra, com psicólogo. Busque essa ajuda e, a partir daí, após avaliação, ser encaminhado para outros tratamentos, que podem ser por remédios e exames laboratoriais. Muitas vezes, há quadros orgânicos de hipotireoidismo, com alteração da função da tireoide, que causam sintomas de ansiedade e depressão. Então, é preciso também fazer a realização de exames, encaminhar para uma atividade física, orientar a repensar sobre seu trabalho, sua vida acadêmica... Muitas vezes, as pessoas chegam aqui sobrecarregadas de suas funções, muitos atarefados, na correria, dormem pouco porque estão em diversos trabalhos, têm alteração do horário do ciclo do sono. Então, são coisas que a gente pensa junto para ter uma melhora no tratamento”, exemplifica.

TEMPO DE TRATAMENTO

O tempo de tratamento, de acordo com o Dr. Antonio, depende muito do paciente, e pode durar anos.

“Tem paciente que, primeiro, apresenta um quadro de depressão e depois faz um tratamento correto por um período de um a dois anos. Mesmo no período em que ele estiver assintomático, ele precisa fazer o tratamento correto, com acompanhamento e esse acompanhamento será a cada dois, três, quatro meses. Isso vai depender dos sintomas que o paciente apresenta. Fez o tratamento, a gente torce para que não tenha um novo episódio. Mas existe um risco maior: a pessoa que teve quadro de depressão está propícia a ter novos episódios. Então, temos de orientar essa pessoa a dar continuidade ao tratamento de psicoterapia, da atividade física, de evitar uso de substâncias psicoativas, ter os seus momentos de lazer, lidar bem no trabalho e isso é extremamente importante. Algumas pessoas têm uma caraterística de doenças mais graves, ou mais recorrentes, seja por fator genético, seja pela vida cheia de fatores estressores, de situações de estresse elevado. Algumas pessoas precisam de uso contínuo de medicamentos, tem um quadro grave de esquizofrenia e precisa de um contínuo de tratamento. É um transtorno bipolar de humor, então, essa pessoa precisa de um tratamento contínuo”, frisa.

Será o mesmo tratamento ou a mesma dosagem? “Não!”, responde o dr. Antonio, de forma enfática.

“Durante o tratamento, serão avaliados os sintomas, as dosagens dos medicamentos, avaliado o que os pacientes têm feito para melhorar. Muitas vezes, o paciente só busca o remédio, e isso está errado. A gente sabe da importância de se trabalhar de forma multiprofissional, com os psicólogos, psicanalistas, terapia ocupacional, educador físico, nutricionista, são fundamentais no tratamento da saúde mental”, complementa.

POR QUE JANEIRO BRANCO?

A campanha Janeiro Branco acontece desde 2014 para estimular a sociedade a debater a importância da saúde mental nas relações humanas. Ela foi criada pelo psicólogo e palestrante mineiro Leonardo Abrahão. O objetivo é alimentar uma cultura de Saúde Mental na humanidade, trabalhando pela psicoeducação dos indivíduos e pela criação de políticas públicas dedicadas às necessidades psicossociais da Saúde Mental.

“O branco vem numa forma de a pessoa chegar em janeiro e pegar uma folha de papel em branco para planejar as ações e sonhos do ano que se inicia. Neste papel, incluímos a importância da saúde mental, de estar passando por sofrimento, buscar ajuda profissional e essa ajuda pode vir de um psiquiatra, de um psicólogo. Mas situações de risco de suicídio, agressividade intensa, pensamentos de morte, surtos psicóticos, elas são emergências, devemos buscar ajuda do psiquiatra imediatamente”, afirma o psiquiatra.

É justamente com relação a políticas públicas que o Dr. Antonio também faz uma ressalva, já que existem poucos profissionais psiquiátricos na rede pública de saúde, em detrimento a uma demanda tão relevante.

“Sabemos que há uma demanda alta nos consultórios. É difícil encontrar na rede pública o profissional de saúde mental. Tem muita demanda e poucos profissionais. Mas é preciso buscar a emergência psiquiátrica, ter um apoio inicial que vai encaminhar para outros serviços”, conclui.