‘Novembro Azul’ deve chamar a atenção não somente para o câncer de próstata, mas para a saúde masculina de forma geral, diz urologista

Data de publicação: 24/11/2022

‘Novembro Azul’ deve chamar a atenção não somente para o câncer de próstata, mas para a saúde masculina de forma geral, diz urologista

Em apoio à campanha ‘Novembro Azul’, o Sindicato dos Médicos do Estado de Sergipe (Sindimed-SE) chama a atenção da sociedade para a importância do diagnóstico precoce do câncer de próstata, o mais recorrente entre a população masculina, depois do câncer de pele, representando 29% dos diagnósticos da doença no País, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca).

O Inca aponta para 65.840 novos casos de câncer de próstata a cada ano, entre 2020 e 2022. Os números de Sergipe também são alarmantes. O Estado tem uma estimativa de 122,55 casos para cada 100 mil habitantes homens, a maior taxa do País.

Com o objetivo de conscientizar a população masculina sobre a necessidade de cuidar da saúde, o Sindimed-SE entrevistou o urologista sindicalizado Mário Henrique Tavares Martins, coordenador do Serviço de Urologia da Rede Primavera.

Ciente da importância do tema, Dr. Mário Henrique afirma que o homem, notadamente, se cuida menos que a mulher, e essa falta de zelo com a própria saúde é uma prática que precisa ser combatida. O Novembro Azul, diz ele, deve chamar a atenção não somente para o câncer de próstata, mas para a saúde masculina de forma geral.

“O homem vai menos ao médico e a gente tem aproveitado esse momento do Novembro Azul para chamar o homem para cuidar de sua saúde. Não só do câncer de próstata. Outra coisa interessante é que, no ano passado, participei de uma campanha no Hospital de Cirurgia e eu diagnostiquei mais diabetes do que câncer de próstata. Ou seja, homens que não sabiam que tinham diabetes e acabamos descobrindo naquele momento”, revela o urologista.

PREVENÇÃO AO CÂNCER DE PRÓSTATA

De acordo com o Dr. Mário, o diagnóstico precoce do câncer de próstata é fundamental para maior chance de cura. Para tanto, o exame de toque retal, além do exame de sangue para quantificação do Antígeno Prostático Específico (PSA na sigla em inglês), são fundamentais para a detecção da doença em seu estágio inicial.  Conforme Mário, o ideal é que esses exames sejam feitos por homens a partir dos 45 anos, que tenham histórico da doença na família, ou a partir dos 55 anos, sem este fator de risco.

“Fazemos dois exames. O primeiro, de sangue, serve para detectar o nível do PSA, que é uma proteína produzida especificamente pela próstata. Quando a próstata tem alguma doença, a concentração dessa proteína no sangue aumenta. Não é só o câncer que aumenta essa concentração da proteína no sangue, uma inflamação na próstata aumenta também, bem como crescimento benigno. Por isso que é interessante que o homem faça o PSA periodicamente para a gente ter noção de como era e como está se comportando agora. Isso dá muito mais informações do que uma dosagem isolada do PSA, que é uma análise pontual”, explica.

O outro exame é o toque retal, que tem mais resistência do público masculino, mas que permite ao médico avaliar alterações da glândula, como endurecimento e presença de nódulos suspeitos.

“A próstata fica vizinha do reto, só que ela fica embaixo do osso púbis. Como não tem como palpar, não tem como saber se tem algum nódulo. Pelo toque, via ânus, a gente consegue sentir se tem algum nódulo endurecido que suspeite de câncer”, detalha Dr. Mário, ao reiterar que, somados os exames PSA e o toque retal, a probabilidade de detectar alguma anomalia aumenta consideravelmente.

Mas todos os homens têm de fazer toque retal? Segundo o Dr. Mário, essa é uma discussão que está em curso. “Quando o PSA está abaixo de 1, o toque retal, muitas das vezes, se faz desnecessário. À medida que aumenta um pouco mais, ele vai lhe dando informações que ajudam no diagnóstico. Mas não tem nada mais moderno? Existe, mas não tão barato e simples como o toque retal, porque dura menos que 15 segundos, é indolor, não tem custos e não deixa nenhuma sequela”, relata.

Conforme o Dr. Mário, o exame mais sofisticado para analisar a próstata é a ressonância magnética.  “Só que é um exame caro, demorado e envolve contraste. Então, não é para todo mundo e não é para casos de rastreamento, é para casos específicos em que se tem risco maior. Muita gente pergunta sobre ultrassom da próstata, mas ela não serve para detecção do câncer de próstata, ele serve para doença benigna da próstata”, esclarece.

SINTOMAS

Na fase inicial, o câncer de próstata não apresenta sintomas e quando alguns sinais começam a aparecer, 95% dos tumores já estão em fase avançada, dificultando a cura. Na fase avançada, os sintomas são: dor óssea, dores ao urinar, vontade de urinar com frequência e presença de sangue na urina ou no sêmen.

O câncer de próstata cresce, na maioria das vezes, na periferia da próstata. Ou seja, ele não costuma dar sintomas na sua fase inicial. Em sua maioria, os sintomas são urinários: dificuldade para urinar, jato urinário fraco, frequência de ir ao banheiro. Só que esses sintomas são mais comuns na doença benigna ou relacionados à prostatite. Quando o câncer de próstata dá sintomas, ou ele está numa fase mais avançada, que às vezes não terá mais uma chance de cura, ou é um câncer mais atípico, que nasceu num lugar preferencial. Essa ausência de sintomas do câncer que justifica o rastreamento”, frisa o médico ao sublinhar que o principal foco de metástase do câncer de próstata são os ossos.  

RASTREAMENTO

O especialista diz ainda que o rastreamento anual para o câncer de próstata, que consiste nos exames PSA e toque retal, deve ser feito em pacientes com sintomas urinários entre 50 e 75 anos, ou que tenham pelo menos 15 anos de expectativa de vida.

“A pessoa com mais de 80 anos que vinha fazendo acompanhamento e até ali estava tudo normal, não tem sentido fazer rastreamento, porque mesmo que ele desenvolva um câncer de próstata, ele não vai morrer disso, porque é um câncer de crescimento lento. Mas até os 75 anos, quando tiver sintomas urinários, aí vale a pena fazer o rastreamento certinho, de forma anual. Hoje em dia, o foco da campanha é entre os 50 e 75 anos para fazer esse exame preventivo, que seria esse rastreamento para a detecção precoce. Com menos de 50, só deve fazer quem teve forte histórico familiar. Se fez tudo direitinho e está tudo normal, a partir dos 75 anos não precisa manter um rastreamento regular, deve procurar um médico quando tiver sintomas relacionados à urina, não para fazer detecção precoce de câncer de próstata”, orienta.

A PRÓSTATA

A próstata é uma glândula integrante do aparelho reprodutor masculino, situado na região pélvica e responsável pela produção do líquido seminal, que vai nutrir os espermatozoides. Normalmente de pequeno volume, fica situada logo abaixo da bexiga e circunda a uretra, e tem entre 4 a 6 cm, sendo semelhante ao tamanho de uma noz.